Queria que
os portugueses
tivessem
sentido de humor
e não
vissem como génio
todo aquele
que é doutor
sobretudo
se é o próprio
que se
afirma como tal
só porque
sabendo ler
o que lê
entende mal
todos os
que são formados
deviam ter
que fazer
exame de
analfabeto
para provar
que sem ler
teriam sido
capazes
de
constituir cultura
por tudo
que a vida ensina
e mais do
que livro dura
e tem
certeza de sol
mesmo que a
noite se instale
visto que
ser-se o que se é
muito mais
que o saber vale
até para
aproveitar-se
das dúvidas
da razão
que a si
própria se devia
olhar pura
opinião
que hoje é
uma manhã
outra e talvez
depois terceira
sendo que o
mundo sucede
sempre de
nova maneira
alfabetizar
cuidado
não me
ponham tudo em culto
dos que não
citar francês
consideram
puro insulto
se a nação
analfabeta
derrubou
filosofia
e no jeito
aristotélico
o que certo
parecia
deixem-na
ser o que seja
em todo o
tempo futuro
talvez
encontre sozinha
o mais além
que procuro.
Agostinho
da Silva, in 'Poemas'
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